quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Ode à Burocracia ou O Empatamento da Máquina


a bosta desceu do pescoço para a cintura. preenchi os malditos formulários e assinei a porra toda. pronto. já estava apto para enfiar a vida no cú. oito horas por dia socado numa sala alugada nos fundos de uma repartição pública. mais três horas sacolejando num ônibus, tentando dormir em pé. uma hora pra comer, cagar e mijar. mais uma hora na fila pra pagar ou receber alguma quimera. restam-me apenas sete horas pra fumar, ouvir abobrinhas e futilidades de toda sorte, atravessar a rua, reclamar e dormir.
não sei que porra de personagem do Dostoiévisk disse que todo homem consegue aquilo que quer como castigo, ou qualquer coisa assim. no caso, sou constrangido a concordar com ele. a coisa estava tão feia ultimamente, que às vezes me arrependia de ter saído do correio ( eu devia estar delirando de fome). e então a ocasião fez o cuzão.
me achava bom demais para aquilo, mas de fato sou ruim demais para qualquer coisa que exija alguma dedicação. definitivamente nunca tive talento para trabalhar. portanto, nunca me incomodei em fazer qualquer merda, desde que me pagassem por isso, sem exigir muita responsa.
tenho preguiça até de pensar. queria mesmo é fazer porra nenhuma pro resto da vida. quem sabe escrever esporadicamente o que me der na telha e trepar quando estiver afim. tomar uns bons tragos e fumar cigarro de índio de papo pro ar. na sombra, de preferência.
infelizmente a vida não dá colher de chá. muitas vezes ou neguinho se submete a essa porra de organização social vigente e se enquadra nessa maldita divisão do trabalho, ou simplesmente é eliminado do mapa, tornando-se mero dado estatístico, entupindo os arquivos embolorados do estado. não antes sem ser atirado numa cova comum - identificado como indigente, deixando de ser visto por ai.
ai então, ninguém mais vai se incomodar se fizemos a barba ou se estamos completamente bêbados. talvez a nossa mãe chore e se aborreça conosco. mas ai já era, não adianta nem rezar.
porém, quando você se toca está recebendo ordens inúteis de um babaca, com o cú na cadeira macia, que não sabe nem que diabos está fazendo vivo na face da terra.
como também não temos talento para meter o cano na cara de um almofadinha qualquer e pegar a nossa parte do bolo. procuramos emprego e por azar encontramos. batemos o ponto - sempre atrasado, porque algo em nós nunca se ajusta a isso tudo. abdicamos daquele ócio tão necessário para o nosso espírito - popularmente denominado de oficina do capeta - e ai sim, mesmo contrariado, agora poderemos pagar religiosamente os tributos referentes a cada peido que damos sem o cú saber. amém!
c.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Vinho & Chocolate


Os dois se encontrariam na rodoviária. Depois de horas a fio de um papo bom e imaginação fértil. Ele iria em busca do tempo perdido. Ela, pra perto do coração selvagem. Ambos iludidos, procurando sabe-se lá o quê e pensando em sacagem. Trocando cartas, iventando baralhos. Bebendo e arrotando poesias de toda sorte.
O ônibus poderia atrasar. Pensou que se fosse de trem seria mais romântico. E se o filha da puta não vier? E se aquela vaca não aparecer? Ouvia jazz. Charlie parker, talvez. Não sabia distiguir. Achava legal gostar de jazz.

Ela iria. Certamente. Mulher é curiosa. Ele contava a grana, queria ter certeza de que não iria fazer feio. E se ela quisesse ir num desses lugares de bacanas. Que vá pras picas, oras!pensou. Ela quer levá-lo num boteco fudido, tomar pinga e falar de arte para impressioná-lo.

Ele vai. Já está na estrada. Deu o cano no trampo. Fez um empréstimo pessoal. E está querendo mais é que se foda. O ônibus vai parando e não chega nunca. Ela queria chegar depois. Não queria parecer atirada. Será que eu dou no primeiro encontro? E se ele for feio de perto? E se ele for feio mas trepar bem? Parece bem espertinho. Inteligente eu não diria. Ela deve ser neurótica. Mulheres escritoras que pensam demais acabam neuróticas. Ele fala cada coisa... e eu estou querendo mais do que palavras. Quer saber? Não vou ficar aqui esperando. Ele deve é ser um tremendo de um sacana. Tem pinta de sacana. Deve ser é um cuzão de um viado que não tem nem pau.

Ela desiste depois de esperar pelo atraso do acaso. O maldito ônibus que não chegava, meia hora depois estaciona na plataforma 23. Ele estava babando na poltrona 32. Salta com os olhos pregados e ofuscados pelas luzes do terminal. Procura no bolso da jaqueta surrada por um canceroso, acende e sai olhando para todos os cantos e nem sinal da fulana.

Ela vai voltando pra casa. Assustada. Arrependida por ter ido. Com remorso por ter esperado tanto e ter feito papel de idiota. Arrependida por não ter esperado mais. Quem sabe não se atrasou? Será que não seria demais voltar até lá?
Ele, já contrariado e puto da vida por ter ido tão longe por uma bucetinha pensante, se mete numa birosca e começa a encher a cara de conhaque barato. Se envolve com uns sujeiras e sai na porrada com um malandro qualquer. E bem na hora do sapeca iá iá cai bonito na mão dos samangos, que estão no apetite de curar vagabundo na sova. Resumindo, leva uma surra dos canas e dorme na gaiola pra aprender a ficar pianinho no terreiro dos outros.

Ela anda duas quadras rumo à rodviária - preciso arriscar porra. Desse jeito não desencalho nunca, pensa.

Ele está fudido. Não conhece ninguem naquela porra de cidade grande. Esta fudido. Sujo. Todo estrepado. Levou um cacete dos sucuris. Um belo chute nos grãos da moça. Teria que ligar pra mamãe o nosso Dom juan do mato.

Ela desvia do seu caminho ordinário. Está tocando um blues do cazuza no rádio. Ela vai acelerando até o supermercado e quase bate no estacionamento. Chora.

Ele, se fudendo sozinho na porra daquela cela até o sol nascer quadrado, espera pelo indulto e a grana da coroa pra ganhar a rua no outro dia e dar o fora dali.

Ela vai se arrastando até a prateleira de doces e enche a sacola de chocolates finos. Apanha uma garrafa de um bom vinho do porto. Passa pelo constragimento das relações humanas na fila do caixa e sai de cabeça erguida, tentando esboçar no semblante alguma dignidade. Pensa consigo mesma; tenho bom gosto.

Ele consegue a ligação. Leva uma dura da velha, que manda a grana que irá liberá-lo após os procedimentos de praxe. Sai cabisbaixo da delegacia. Puto da vida. E pensa consigo; estou fudido.

Ela vai para seu apartamento.

Ele para a casa da mamãe.

Ela se entope de vinho e chocolate.

Ele se entoca no banheiro e bate uma punheta pensando na diaba.
c.

Salada de Repolho


Rita, regateira, decidida, o tipo de mulher que é dona de sair do riscado. O que ela gostava mesmo era de levar na cara, tomar no rabo. Adorava um esculacho bem dado.
Teodoro, o bom moço. Olhos embriagados. Magro & amarelado, cabelo seboso, mas bom moço. Ele odiava salada de repolho. E nunca teve ânimo pra nada, muito menos cogitava de bater em mulher...
Teodoro na sala; entediado. Andava de um lado pro outro, com seu jeito todo torto. Esperando sabe-se lá o quê... Teodoro esqueceu - o que eu vim mesmo fazer aqui? – pensou.
Rita tomou banho e se penteou. Encheu o corpo de creme. Abriu a janela do quarto & ficou se olhando no espelho.
Teodoro era idealista. Nunca estava de acordo com nada. Não acreditava em porra nenhuma, mas costumava disfarçar contando piadas que ninguém entendia. E apenas com profundo pesar e resignação, deixava o tempo passar. Esperou...Teodoro não era de se apavorar, mas de vez em quando mordia os cotovelos e saia correndo como aquele maluco do filme que ensinou o Elvis a dançar.Teodoro enfiou a vida no cu. Leu uma porrada de livros mofados. Ouviu Velvet Undergound & ficou muito louco. Chapado como uma pedra. Se ocupando com as bobagens do seu mundinho pessoal. Aparou as unhas e se deitou no sofá. Depois coçou a cabeça & coçou o saco. Os programas da TV eram todos chatos demais - pensou... Nesse tempo fumou muitos cigarros...
Rita se armou de batom, vestiu seus penduricalhos e foi à guerra. Saiu toda-toda desfilando no calçadão o vestido novo. Vagabundo na rua pagava sapo. Salivava e engulia cuspe. A mina era boa de carcaça. Sabe aquelas que arrepiam o pêlo do malandro quando passam? Daquelas que sabem que são gostosas e se empinam? Então, a Rita era daquelas...
Teodoro esperava Rita. Rita estava meio assustada. Andava pensando na vida. Foi encontrar Teodoro, o moço esquisito, que outrora lhe arrancara o cabaço, com um aperto no peito, mas, talvez fosse prisão de ventre e menstruação atrasada ou então só o cansaço de mais um dia.
Teodoro, besta de tudo, escreveu poesias e comprou camisinhas.
Rita estava cansada e queria mesmo era ir ao pagode, desbaratinar, tomar uns birinaites e jogar conversa fora. Queria um homem que a pegasse de jeito. Não que não achasse Teodoro engraçadinho e bacana. Sentia por ele uma espécie de afeto... Um sentimento de – esse cara ai... Ele é tão esquisito, coitado. Teodoro pressentia que iria se fuder de novo, mas, investia na foda. Queria manter uma reputação que pensava ter. Ele vai dizer que a ama... Talvez por que fosse romântico, talvez porque fosse um canastrão que diz isso pra todas que dão mole. em verdade, Teodoro queria comer bem a desgraçada e dar o fora dali logo. Não era de andar a toa. Levava pinta de bom moço, apesar de ser viciado e não ter onde cair morto. Dava uma de que estava preocupado, mas levava tudo no bico. Costumava dar certo. Menos com a Rita. Com a Rita não tinha conversa. Era tudo simples. Sem filosofia. Na seca. Ou é sim ou é não. É óbvio que o que levava Teodoro a sempre fazer papel de bom moço é que ele tinha uma tremenda cara de otário. E vice e versa.
Rita era uma mulher a flor-da-pele. Queria se entregar inteira. Ela sentia isso. Mas não pra um cuzão feito Teodoro.
Teodoro era o típico vagabundo. Falava pra caralho sobre tudo, mas não esquentava mesmo era com porra nenhuma. Estava afim de impressionar a todos. Puxar a sardinha pra sua brasa, mas, no fundo no fundo era um boca de mingal que não ia dar em nada. Um bosta na vida. Depois de duas doses de conhaque isso ficava evidente.
Rita queria viajar pelo mundo, queria respirar outros ares... ser feliz pra caralho. Gozar a vida a fuder, que nem as moças da novela.
Teodoro sabia que ser feliz é saber se virar na tristeza.
Ele esperou... ela chegou - Não tem outro jeito, agora já foi, afinal fui eu quem chamou esse cara aqui. O que eu vou falar pra ele? Eu sinto algo por esse porra. Não quero magoá-lo. Mas não estou afim de dar hoje. O que é que eu posso fazer. Perdi o tesão... não sei... ficar com esse puto de novo deitado na minha cama. Cagando no meu banheiro. Sei lá...
Teodoro nem está tão animado, mas já que a situação chegara até ali. Como diz o outro: já que está, deixa ficar!
Tomaram muitas cervejas. Acenderam um cigarrinho de artista e pronto. Na mão do palhaço. Ferro na boneca!
Mas... Depois de uma noite emblemática de bebedeira... contando os corpos, mortos e feridos, só sobreviveram Rita e Teodoro pra contar a estória - realmente como se deu.
Todavia, como Rita era analfabeta, o resto do mundo vai ter que acreditar que Teodoro se deu bem...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Paráfrase em prosa de um soneto qualquer

O poeta anuncia o inevitável; seu próprio fim. Em tom profético, ele suplica à amada que avise ao resto do mundo de sua ausência; sem desespero, nem dor. Pois que, ao menos, estará a salvo da crueldade dos homens na morada dos vermes.
Roga encarecidamente à amada que o esqueça, assim como de seus versos, que com a fatalidade de seu futuro cadáver sepulte também seu nome e qualquer lembrança que possa inspirar-lhe dor e saudade.
Por fim, o poeta sacrifica o próprio amor, num gesto nobre, assassina-o num só golpe, para salvá-lo da língua afiada dos sábios que zombam da desgraça alheia.
c.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Cena 1: Plano de filmagem

Claquete 1; Ação!

Câmera na mão. Respira, pensa. Em primeiro plano o foco se detém ao olho escancarado. Num segundo plano um suposto cenário se reduz a nada. Toda a atenção da objetiva volta-se para a vasta pupila, focalizando quase de dentro o olho que não pisca.

Busca-se, com precisão milimétrica, captar a textura úmida e líquida da oscilação quase imperceptível do enigmático mecanismo da visão.

Sugestão:

Digamos que o tempo para a cena deva ser flexível, operando de acordo com a percepção e o estado de espírito de todas as partes envolvidas no ato – até que escorra uma lágrima sincera.

Corta!

E cai o pano.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

quinze p’rás três 02:45

Enquanto a lâmina afiada do tempo mutilava aos poucos a carne rústica daquele pobre diabo, inútil era agarrar-se à margem daquilo que parecia infinito. E escorria-lhe por entre os dedos manchados de nicotina. Olhos refletidos no fundo do copo vazio vasculhavam os últimos vestígios. As mãos trêmulas por todos os bolsos da alma, revirando tudo do avesso, e, nada. Apenas o corpo saiu se espraiando cambaleante seduzido pela sarjeta. O maldito sino da igreja repicou três vezes de novo seu badalo fúnebre, martelando-lhe com toda força os parafusos soltos da cachola.
Era hora de fechar. Naquele instante o universo deu um salto sobre si mesmo e passou a mão na bunda do tempo.
E nosso ilustre herói sem história mais uma vez morreu afogado no próprio vômito.
c.

Estomatite Crônica



Em meados de agosto, por um vento cortante e extremamente frio, saía um rapaz de um cubículo alugado, na rua Arauá, e, caminhando sem jeito, dirigia-se à sociedade propriamente dita. Discretamente, evitando chocar-se com as pessoas.
O buraco em que vivia ficava precisamente debaixo de uma viela no fim de uma escadaria e parecia mais uma caixa de sapatos do que um quarto. Puto da vida com as pessoas, estranhamente, temia encontrá-las, porquanto desviava-se sempre do seu caminho. Todas as vezes que agia desta forma sentia uma mórbida sensação de covardia, que o envergonhava e o fazia franzir as sombrancelhas. E isso não porque fosse covarde ou tímido, pelo contrário; simplesmente havia algum tempo que se encontrava num estado de excitação e nervosismo que se sentia como se estivesse acometido por uma doença mortal e silenciosa.
Tão apegado as suas dúvidas e decepcionado com o mundo das pessoas, se internava cada vez mais dentro do seu invólucro carnal, se afastando dos outros, abominando a ideia de conviver com eles e participar de seus negócios.
A miséria humana o deprimia; mas até isso lhe era indiferente. Abandonara suas ambições e seus trabalhos cotidianos, não queria se preocupar com absolutamente nada. Ter de escutar todas as tolices das pessoas, estúpidas até o absurdo, e que não lhe interessava nem um pouco. Todos aqueles disparates, cobranças, ameaças e lamentações. Falar, falar, desculpar-se, mentir…
Às vezes ele sentia vontade de dar cabo a essa angustia tola que encenava nos palcos urbanos da vida. Mas suas mãos tremiam tanto diante da dúvida que ele fumava cada vez mais. Fumava estupidamente demais. Depois de muitos cigarros, se perguntava: porque sofrer tanto com aquilo? Por que se descabelar por essas migalhas? Por que se aborrecer tanto por essas bagatelas?
A aridez, os empurrões, o caos por todos os lados estampado em seus olhos vidrados, enfeitiçados. As pessoas e suas coisas, elas mesmas coisas, seus carros & suas casas; a umidade, a fumaça, o mal cheiro característico velho conhecido de todos os trastes que habitam esses tristes casebres cravados no ânus da cidade. Tudo isso junto causava uma impressão terrivelmente desagradável nos nervos do rapaz. O triste colorido dos cartazes. O cheiro insuportável dos bares e os bêbados. As pessoas se amontoando pelas ruas, desempregadas, desesperadas, exploradas, fodidas… sem saber de nada, falando bobagem o tempo todo. O barulho disso tudo junto lhe era ensurdecedor.
Decorrem dez minutos. Respira ruidosamente. Sente o coração oprimido, palpitante. Os pés paralizados, voz atônita, deitaram raízes na terra. Quis gritar, mas na garganta tinha um sapo atravessado. Caiu num abismo do mais completo silêncio. E tudo conteve no imenso vazio de si.
No dia seguinte, às dez, acordou preocupado e sério. Muitas dúvidas e hesitações o assaltaram pela manhã. Recordava os pormenores da situação que em sua totalidade lhe escapava – havia lhe acontecido algo estranho que nunca antes lhe ocorrera. Uma impressão completamente nova que não podia ser comparada com nenhuma outra que já tivera.
Guardou tudo isso em bolsos diferentes e caminhou depressa com passo firme e, embora se sentisse a própria merda viva do mundo, tinha plena consciência de tudo. Era preciso andar depressa enquanto tinha força e ainda lhe restava alguma lucidez.
Porém, para onde ir?
E ir contaminado de pressa e rotina, sem nenhum estilo? Amontoado como material bruto, sem vida, sem escolha? Sacolejando, empurrando, empurrado, espremido, em fila, matando e morrendo a cada dia? E quando chegar a hora? provavelmente não restará mais nada para morrer.
Depois de ter examinado tudo aquilo, bem, outra vez, não podia evitar o constragimento e o desprezo, levou as duas mãos aos bolsos e lançou para o universo.
c.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Kafka, café, inseticida & outros bichos

Escreverei sobre as ratazanas passeando nas telhas de amianto. Sobre as trincas das paredes minando líquidos viciosos, que emboloram até os cantos da alma. Direi que um pouco de luz me invade pelas frestas da porta e que da janela com grades avisto um muro de blocos a dois palmos do meu nariz. Contarei como dezenas de baratas, que desisto de matar por um misto de preguiça e apatia, coabitam comigo contaminando meu ânimo, minha imaginação & os quatro cantos do casebre. Nomeio cada uma delas - me são íntimas. Se não as conheço minuciosamente pelo menos penso que estou numa viagem kafkiana, um pequeno delírio literário regado a café gelado & cigarro barato... mas de fato moro com baratas.
Cortaram a água. Acabou o gás. Dois meses de aluguel atrasado. Secada a última garrafa de cachaça. Vasculhamos as guimbas maiores no cinzeiro. Não temos fósforos, sequer temos vinte e cinco centavos. Dar descarga com a água da chuva que juntamos num balde & limpar o cú com jornal é de praxe. E de agora em diante todo o nosso empenho e esforço será dedicado para adquirir mais inseticida & mandar tudo isso logo para a casa do chapéu!