segunda-feira, 5 de julho de 2010

um penico para a humanidade

O AMOR VENCEU! a senhorita deve estar se perguntando: mas que porra é essa? sei lá, só precisava começar com uma frase qualquer. naquele tempo eu achava que era isso - para ser um escritor que preste tinha que começar com uma frase de impacto e depois ir amontoando um monte de merda pra justificar tudo, ou pelo menos convencer o leitor de que aquilo era mais interessante do que a t.v.

mas no funfo no fundo talvez eu estivesse enlouquecendo. por que necessitava escrever. e não escrevia. um escritor tem que escrever, não tem? na maioria das vezes eu pensava que sim. me parece muito justo que um escritor escreva. naquele tempo eu achava que um escritor que preste tinha que escrever no mínimo umas dez mil palavras por dia - isso me fazia sofrer, pois passava a maior parte do tempo fumando maconha e assistindo t.v.

eu morava sozinho. agora podia pagar o aluguel. arranjara um emprego num museu. uma porcaria de um emprego que salvou meu rabo. era até moleza se comparado com os outros, porém não deixava de ser um emprego e todo emprego não passa de lixo. basicamente eu ficava quatro horas pela manhã falando sobre segunda guerra mundial, revolução francesa e império romano pra uns pirralhos da escola. e para eles tanto fazia se Hitler ressucitasse e matasse mais um milhão de judeus e os amontoasse feito lixo. estavam pouco se fodendo. queriam era apertar as meninas, encher o cu de espinhas de tanto bater punheta. e as meninas se importavam mais em se empiriquitar de maquiagem e dar gritinhos agudos. foda-se os conflitos mundiais - eles faziam sua própria guerra de bolachas e seu corre-corre dentro do museu. pareciam ter sido mastigados e cuspidos pela t.v.

eu achava aquilo tudo um despropósito. um monte de merda cagada a toa. aluguel. emprego. museu. humanidade. imperio romano. revolução francesa. segunda guerra mundial. escolas. meninos. meninas. punheta. maquiagem. gritinhos. corre- corre. guerras de bolachas e um monte de merda sem sentido que passava na t.v.

por que o Napoleão está no topo do monte dos sábios? logo quando você entra pela portaria dá de cara com um painel eletrônico provido de um sensor de luz que dispara toda vez que alguem entra no museu interronpe o feixe de luz e automaticamente se depara com o Serra. de corpo-inteiro falando um monte de groselha. é a visao do inferno. museu do Serra patrocinado pela coca-cola em parceria com o kassab e o diabaquatro. o museu construído pelos barões do café e as empresas de estradas de ferro. e o napoleão no topo do monte dos sabios. parecia piada. coisa da t.v.

eu estava com um bandolim nas mãos e não sabia tocar. e se fosse aqueles moleques eu faria o mesmo. não, pensando bem eu faria pior. uma vez eu empurrei um menino da escada. empurrei sem nenhum motivo. só pra ver o tombo. ele desceu rolando. era franzino. quebrou o braço. chorou pra cacete. e eu apavorado também chorei. era menino. devia ter uns sete anos. levei um esculacho do diretor e uma surra do meu coroa. depois de uma semana ficamos amigos e ele até deixou que escrevesse meu nome em seu gesso.

de qualquer forma eu não via solução pr'aquilo- a humanidade e seu odor. ou o problema era grande demais para ser resolvido ou era melhor pensar que não havia problema algum. todos no fundo no fundo sabiam que saiu do controle faz tempo. alguns disfarçavam com esperança e tapavam o nariz pra revirar a merda, mas a maioria vivia moralmente atolada na merda da idade media. tempos de merda abundante. não faria diferença nenhuma se degolassem outro chefe da revolução burguesa. foda-se a burgesia e foda-se a França. os franceses fedem, eu vi na t.v. e toda aquela putaria romana não passa de merda. todo mundo sabia que a historia da humanidade era um monte de merda que fedia pra caralho - os pirralhos ainda não sabiam disso, mas já desconfiavam.

de repente me vira uma garotinha de uns seis anos e pergunta: tio, de onde vieram os humanos?

a beleza me constrange.

bem, o amor era qualquer coisa parecida com isso e venceu por que foi duro levantar o rabo da cama, desligar a t.v. e escrever isto. voce mesmo ja deve ter se sentido assim. de alguma forma sofro muito com tudo isso. a senhorita deve estar se perguntando, mas isso o que? eu sei lá. só sei que não é um sofrimento real. tipo perder uma perna ou vazar um olho ou ainda encher o cu de cancer e ficar broxa. mas é insatisfação. quase uma frescura se comparado ao sofrimento de quem dorme nas ruas fedidas de são paulo. uma maldita melancolia. será que eu to virando viado? a idéia de dar o cu me dá nauseas. acho que é amor. se for talvez me masturbe pensando em voces. essa noite, por favor lavem o cu.

nada disso de fato era real. as proprias pessoas não eram reais. sendo assim suas dores não podiam ser reais. rascunhos debilóides dentro da terrivel normalidade. esboços mal feitos pela memória afundada num mar de inconsciencia. um monte de merda boiando na falta de imaginação. quando me sentia assim enchia a cara de cachaça. já estava ficando resistente ao alcool e queria ver onde isso ia dar. eu ia de encontro a merda. por isso mais uma vez o amor venceu.

as pessoas iam se amontoando feito porcos indo pro abate de metrô. exalanvam fraqueza. encenando a tragica comedia humana. um puta moralismo de madalena arrependida. um teatro de marionetes histéricas. fanctoches querendo seus nomes em anuncios luminosos. armando seu pequeno circo de pulgas e proliferando seu lixo podre por toda parte. uns filhos da puta querendo ir pro céu. rezando bem alto e enfiando o dedo no cu escondido. se gabando. pensam que são os bacanas. que estão por dentro. na crista da onda. sabem tudo. manjam das mutretas. sabem fazer chover e levantar defunto da cova. vivem procurando cifre na cabela de cavalo. querendo um enrabar o outro. eis que o amor venceu.

quando falava francamente com deus era quando escrevia: porra! me joga um raio logo na cabeça, mas num rouba minha brisa!

e ai vem alguém e te diz: oi tudo bem. voce fala muito palavrão, devia moderar , escreve bem mas...

voce pensa- puta merda ainda bem que eu não sou esse cara. voce queria ser eu? queria ser o bukowski? não sou o bukowski. se perguntassem ao bukowski se ele queria ser o bukowski , provavelmente diria que não. e ele não era só um bebado como a maioria pensa. eu mesmo tambem não sou. mas gosto de beber. encher um copo atras do outro e engolir aquilo até o ponto da estupidez e me tornar um de voces, um merda na vida. não é isso o que querem? uma vida de merda. é sem graça, mas também não é sério. o que pensaria aquele velho? preciso escrever meu bilhete suicida antes de morrer.

onze e meia da noite. aparecem dois abutres camaradas de copo e cruz me intimando pra tomar uns birinaites e passar um giz no taco. diante de minha parca literatura escrita em papel de bar rabisco um resumo do fim da história, que já é manjada:

volto dois dias depois, duro, mas sem perder a ternura. vomito. cago. reflito sobre minha odisséia pelas quebradas noturnas do pimentas. tomo um chá de boldo e acendo um cigarro. não falo pra ninguem mas a ideia da morte me apavora. penso que eu sou um cara de sorte. podia ter morrido. eu podia ter morrido todos os dias desde que nasci. no entanto ainda estou aqui escrevendo isso. e ainda sei desenhar e jogar bola. definitivamente o amor venceu. gosto de pensar assim.

e é bom ser eu. às vezes.