quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

um tasco da boa e velha subliteratura

eu havia me tornado um sentimentalista. velho, solitário e sentimentalista. logo eu que passei a vida alimentando sonhos que viraram pesadelos. perseguindo a brutalidade poética de um Rimbaud. a ternura áspera de um Baudelaire, fui dar num velhote pornográfico, sentimentalista & pornográfico.

ao menos na juventude podia me dar ao luxo de cometer extravagâncias sem limites. e viver um cômodo adiamento constante, pois já tinha traçado o plano imaginário de minha glória e sabia que um dia iria botá-lo em prática. só essa ideia já bastava, eu confiava em mim. mas o tempo foi passando e esse método de vida que havia adotado não poderia dar em outra coisa. é certo que fracassei. durante anos levando uma vida de merda. sem nenhum controle da situação. sem fazer nada por mim mesmo. sendo levado pela maré do tempo fui dar na praia do esquecimento. e tornei-me um velho punheteiro, sentimentalista e punheteiro.

há essa altura do campeonato eu não podia mais vacilar. era tudo ou nada. quer dizer, era o que me restava ou nada, pois já não me encontrava na condição de querer tudo e as opções minguavam rapidamente, pois agora a cada segundo se passava um ano. eu tinha 52 e estava desempregado, a mulher com quem fui casado durante 10 anos estava me processando, minha amante com quem eu gastara todo o meu fundo de garantia havia me trocado por seu professor de ginástica. eu estava com a saúde comprometida por causa do cigarro e da bebida. uma barriga enorme que não me deixava ver meu pinto. o alguel atrasado. a frustração da vida inteira. dívida no banco. a juventude que não volta. um maldito dente doendo pra cacete, todos os livros que nunca li. os filmes que não vi. as viagens que adiei. as mulheres que fodi. e as que me foderam. os amigos que nunca mais vi. a sombra dos meus pais, que deus os tenha. a própria sombra de deus me perturbando o tempo todo. as mesmas dúvidas da infância. todos os traumas. as oportunidades desperdiçadas. os gols perdidos. os estudos que não comecei. e os que não terminei. não aprender a tocar piano. a dor nas costas, a pressão baixa. os cabelos brancos. a pele enrrugada. os olhos lacrimejantes. o folego curto. o medo da morte. a vontade de morrer logo. a poesia. a política. a arte. a sacanagem. o desperdício. o vício. todo esse entulho que entupia minha cabeça e não me deixava fluir.

minha única alternativa era salvar alguma coisa nesse lixo que por muito tempo eu chamei de vida. o que me restava era escrever toda essa merda que eu havia acumulado durante todos esses anos. sim. eu já me envergonhava de dizer isso a mim mesmo, mas eu pensanva em ganhar a vida escrevendo. só assim, imaginava, poderia recuperar alguma dignidade em minha insignificante existência.

mas de fato eu já não podia usar o método da juventude. já estava mais do que provado que não funcionava. eu não havia escrito nada que preste. eu já sabia que não era um gênio e que era preguiçoso pra cacete. então eu deveria ser sincero ao menos comigo mesmo, se quisesse alcançar o sucesso em qualquer coisa que não fosse pegar nas prateleiras uma pilha de remédios .

oras, pensei comigo, eu tive uma subvida só posso escrever uma subliteratura. a mediocridade também deve ser mostrada como fato real. alguém deve revelá-la de um modo mais descente. não. aos 49 do segundo tempo não posso mais desejar ser outra coisa senão aquilo que sou. um velho sentimentalista e pornográfico. deve haver alguma arte nisso. e se não houver não importa desde que comprem minhas estórias por um preço razoável, tudo bem, eu fico satisfeito.

há uma em especial que não sai da minha surrada memória afetiva. portanto, penso ser justo compartilhá-la com todos. se alguém bater uma lendo isto não terá sido totalmente em vão sujar o mundo com mais tinta, papel & porra.

eu devia ter uns vinte e poucos anos e estava no auge da minha potencialidade física e mental. naquele tempo eu me sentia imortal e por isso estava pouco me fudendo pra qualquer coisa.
com o tempo e o vento a meu favor, me sentia confiante e pronto para enfiar o pau no primeiro buraco que aparecesse. e nessa época a vida era um queijo suiço.
nesse embalo, numa noite louca de bebedeira, tirei a sorte grande. encontrei num desses bares da vida uma apetitosa ninfeta que resolveu se engraçar comigo. eu logo pensei - é treta, tudo o que vem assim muito fácil é treta. mas ela conseguiu provocar o meu orgulho- naquele tempo eu ainda tinha isso- e deixar o meu pau duro como um ferro. não pensei muito. saimos daquela espelunca e fomos para o seu quarto, não muito longe dali.

subimos a escadaria e entramos no quarto. com a luz acesa, começamos a nos beijar doidamente. eu estava meio bêbado. ela também. tiramos a roupa enquanto engoliamos a língua um do outro. eu lambia sua boca, seu pescoço, seus peitinhos durinhos. sua pele branquinha e se eriçavam os singelos pêlos descoloridos da barriga. eu me masturbava pedindo pra ela me mostrar a bunda. ela me mostrava e arrebitava e com uma das mãos arreganhava o cuzinho e a buceta pra mim. de repente ela se abaixou e começou a chupar lindamente. me pedindo pra gozar em sua boca. goza pra mim- ela dizia, com uma vozinha manhosa. aquilo me deixava louco, eu não pensava em mais nada. a não ser em botá-la de quatro e meter em seu rabo. ela deixou, mas não de quatro, por que dói- ela disse. e eu disse está bem. virei ela de frente e olhando pros seus olhos abri suas pernas e as virei pra cima, segurei seus pés juntos com uma das mãos e com a outra segurei o pau para enfiá-lo naquele botão de rosa. levei o pau até perto da sua cara e ela cuspiu na cabeça. me afastei novamente e enfiei devagar em seu cu apertado. foi entrando e ela gemendo e fazendo cara de dor. dava gritinhos desafinados e parecia que ia chorar de prazer. me pau latejava naquele velho jogo do entra e sai. enquanto ela estimulava o clitoris com seus dedos finos(unhas vermelhas). ela lambia os dedos e enfiava nela mesma. eu achava aquilo um máximo. quase morria de tesão.
de repente ela me pediu pra sentar em cima. queria fuder a buceta. vem- ela disse- deixe eu ir por cima, assim... eu me virei, ela passou a perna por cima de mim e deu uma arrebitada na bundinha e com uma das mãos enfiou meu caralho bem gostoso. sentou devagar e foi aumentando o ritmo. pulava e sentava de frente. depois virava de costas e eu apertava sua bunda com força. apertava os mamilos até ela gritar. suávamos. ela se virou de frente novamente e se deitou. vem ela disse. e eu fui por cima dela e comecei a beijá-la na boca. com uma das mãos acariciava seu peito e com a outra colocava o pau em sua cona melada. ela se derretia toda. e pedia mais. passei uma das mãos por de trás das suas costas e fui apalpando o seu reguinho até descer na porta do cú. eu enfiava o pinto e ela fazia força com os quadris para esmagá-lo. eu sentia que ia estourar. ela me pedia- enfia o dedo no meu cú. enfia o dedo no meu cuzinho enquanto mete. e eu enfiava tudo. pinto na buceta e dedo no cu. e ela adorava , gemia e estremecia o corpo todo. eu a tinha ali, inteira nos braços, nas mãos, no dedo e no pinto. ela gritou eu vou gozar eu vou gozar enfia mais, enfia tudo. soquei o pau e o dedo até o fim. ela gritou e começou a sorrir sem parar. eu podia sentir com o pinto através de uma pele fina e interna entre a buceta e o cu, o meu dedo enfiado . essa sensação me fez perder o controle e soltar um jato de porra dentro dela. nesse instante sua buceta pegou fogo e ela deu um gritinho estridente. caímos um em cima um do outro ofegantes e deixamos dentro até adormecermos.

muitos anos se passaram e eu ainda não acordei.



quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

carta para ninguém

não percebam isso. façam vista grossa. façam de conta que nada sucede. que não é nada com vocês. desprezem totalmente oque aqui se faz expresso. não repare nesse portugueis rebelde que é brasileiro e teima em se aproximar da fala simples e direta. sem disse me disse. ignorem tudo isso. voces chefes dos bacanais acadêmicos. especialistas em punhetagem intelectual e todo o seu bláblábla´artístico-teórico-sermão-mantra-hipnótico-traumatizante-caduco-dos-infernos
exalando insegurança e pretensão profética. vocês dessas seitas milagrosas e ongs. generosas. vocês vereadores das cidadelas. prefeitos dos pequenos condados urbanos. comandantes das metropoles feudais. diretores gerais das sessões de vendas. donos das nações. acionistas.doutores. banqueiros. empresários de cara gorda. gerentes. agiotas. surpevisores.
técnicos. encarregados. vocês que também são explorados mas não são da classe dos miseráveis, vocês que ocupam seus cargos descentes e que manifestam apreço por este modo cretino de viver. espero mesmo que não prestem atenção nem percam seu valioso tempo com isso.
estas palavras têm um endereço certo. seu alvo é a vossa indiferença de sempre. voces que se ocultam atrás dessa imundice com a qual lidam. diluídos em tal latrina. a vós que tens a fome de um lobo furioso, mas que no fundo não passam de porcos cevados prontos para o abate. velhos suínos sovinas bebedores de lavagem e produtores de merda. que essas palavras não atinjam as vossas cabeças ocas.
o motivo desse experimento fadado ao fracasso - repetindo a velha técnica dos moderninhos que não sabiam fazer outra coisa, pasmos diante do acúmulo de produção humana- é confirmar que ninguém nos ouve.
sobretudo voces que vendem o chão dos próprios pé paralíticos. a vocês nada deverá afetar ou comover, muito menos palavras. a todos vocês eu repito o que tenho a dizer: ninguém será poupado. portanto, não leiam.
o que os bota medo? oquê tem significado para voces mesmos as vossas vidas? voces são capazes de pensar na merda que fizeram? voces tem coragem de avaliar vossas condutas?
não, é melhor não, pra quê haveriam de fazer isso? melhor não levar essa curiosidade a cabo. isso não é para vocês. definitivamente, não.
voces dominadores de corpos. fabricantes de cérebros e comerciantes de almas. não disperdiçarei essa merda com voces, pois até a merda é mais agradável do que vosso cheiro.
voces estão com medo? com medo da merda que fizeram? com medo de afundar nela para sempre? querem remediar agora? querem mudar pois temem a si mesmos, pois estão com medo de não conseguir juntar toda a tralha que acumularam? cagalhoes! coroneis das minusculas províncias. imperadores do reino da banalidade. proprietários das máquinas de fazer máquinas.
saiam dessas palavras, se esquivem todos. saiam através delas. tapem seus ouvidos e fechem os olhos. não percebam as palavras silenciosas penetrando em seus pesadelos. vocês amigos da boa vida. carrascos sem identidade. voces da corte dos espertos. voces inoscentes nocivos, cooptados. voces que não passam fome e tem o que vestir mas são explorados passivamente. vocês que sabem ler mas não entendem o que está escrito. a todos vocês, ninguém em sã consciência. bilhoes de almas a serviço do monopólio do lucro e do progresso científico desenfreado para o bem da santa fé reinante e pela ordem vigiada e harmônia universal dos infernos.
a todos que pensam que podem pagar um preço razoável por isso. àqueles que aguardam com esperança uma solução que brote do nada. e também aos que se prestam a analisar de fora essa porra toda. a todos aqui citados e aos seus comparsas e cumplices invisíveis ofereço a própria miséria que plantaram e que peguem essas palavras as virem do avesso entenda como quiserem e as metam no pior lugar que puderem imaginar.

a balada de um homem invisível

um homem pálido quase transparente, ali jogado, entre outras coisas que existem, naquele em que as coisas são tempestade e frio. pelo fato de ser um animal cujo objetivo é sentir prazer. aquele que faz bem aos fabricantes e morre sempre na lua nova. nele há constantemente geração e corrupção. ele que acabará por chegar ao presente.

deverá começar o seu avanço. com a percepção de que da vida convém partir do que é bom. ter apenas um conhecimento primário de cada coisa. ser fulano ou ciclano. tanto faz. mas ser sempre permitido que faça algum acréscimo a sua própria natureza e à natureza propriamente dita. nem tudo isso se expressa.

tempo. movimento. lugar. sua apredizagem o trouxe a este caminho. ao seu alcance vários sinais.
nada que possa pegar com as mãos e manipular, mas num certo sentido está ao seu alcance e a sua disposição.

para ele foi um começo. um início de qualquer coisa. e assim, visto que começou haverá de chegar a um fim. e cada coisa será o que disser. e cada coisa será o que é. um manto. um tal composto de animalidade. fagulhas de vida. indefiníveis.

nada terá definição. arruaças, clamores a própria ânsia de ir ao fim do mundo. suas ilustres damas. o ciúmes de tudo. sua constante cata de fugitivos, a execução de suas manias, um estalo de dedos. cada ritual. amplificações, metáforas, como um grito que viesse abafado e de repente explodisse.

quase duas páginas de coisas vivas. com as mãos e os pé cheios de memórias e saudades. olhos quentes na realidade. despindo-se lentamente e seguindo sua historia que adormece e cai no esquecimento, mas às vezes desperta e brinca com a imaginação sem ela dar por isso.

assim escrevia ele no papel sem nenhum interesse de restituir a paz. com um único fim de dizer ele também as duras penas do seu próprio inferno.

suicídio do discurso

ao deixar-se levar pelas palavras transformou-se em um humilde subalterno das idéias sedutoras. o que não era uma pequena vantagem. mas sentia que devia acabar logo com aquela farsa, pois não se adaptava facilmente àqueles discursos fervorosos. sim. decidiu que seria mais saudável acabar logo com aquela farsa e desmascarar aquele espírito mesquinho, latente por de trás daqueles atos heróicos & magníficos.

decidiu que seria melhor observar as manifestações isoladas. e calou-se. o simples não-ato tornou-se uma complexa e sutil ação. nesse instante o silêncio ficou mais acentuado e com um franzir de sombrancelhas o murmúrio elevou-se. inclinou-se para ouvir. teve dificuldade em distinguir alguma exceção. naquele momento pesado e grosseiro deu uma olhada rápida. sabia que não era livre. inutilmente fez um gesto no vazio.

e o diálogo telepático sofreu interferências magnéticas

fará comigo o que lhe aprouver. nada o impede de ir embora, álem da cólera. seus discursos são mesmo inúteis diante dos fatos. e não apresenta concordância com suas ações. palavras insolentes, estas.

recuaram ligeiramente.

nem todo mundo pensa como o senhor. estou esperando...parou de repente. e até sorriu. o senhor não acredita em mim?

em poucas palavras mantinha sempre um ligeiro atraso.

não se preocupe com esse mal-estar.

apresentava uma expressão severa.

o rosto dela bem de perto. já havia visto o bastante e já havia perdido muito tempo.

não vou esperar mais. mas seu silêncio devia ser algo estranho. repugnante. inquieto

este não é o melhor dos lugares, mesmo no caso mais favorável. aliás pelo fato de que podia se fiar tão pouco em suas próprias observações.

porém o senhor certamente refletiu em tudo. não é bom deixar segredos nas mãos de pessoas desse gênero. veja o senhor mesmo o que deve fazer para confirmar a si suas próprias idéias. é pelo menos o que devo dizer. ainda que não faça nenhum sentido. não posso evitar as generalidades.

um silêncio cortante


as palavras mais tocantes não poderiam sustentar o peso do seu corpo. a partir de agora qualquer motivo valerá a pena. podes me conceder um pouco de tempo?

não se iluda. essa possibilidade deve existir a despeito da escolha.

mas nenhuma resposta veio.

está aborrecido comigo? por te fazer me seguir inutilmente até aqui?

deixo-me influenciar com muita facilidade. quando não o faço esqueço minha função.

agora posso ir?

talvez um dia se arrependa de ter gritado tanto, por nada.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

último desejo

a morte veio a cavalo bater na porta da casa transparente em que morávamos. pensei morrer, senti bem de perto a frieza apagar a última centelha. e o ar repleto de ausência a me sufocar. uma goteira corroeu toda minha roupa. o que era desejo secou antes da última gota de vinho. sinceramente não era o que queria. ver o que construi com as mãos, esse amor que era uma cidade louca onde as pessoas morriam nas calçadas, agora todo embolorado. definhando. abandonado ao conforto das coisas e dos discursos caducos.

aos poucos sem festa, sem fogos de artfícios, sem lua. a cama nova em que nunca deitei apodrecia vazia no tempo. a vitrola calada esperava sua hora de ir também para o lixo, se é que o teto não desabasse e tudo virasse entulho com a próxima tempestade.
Justificar
as garrafas vazias amontoadas em cima da pia. as guimbas de cigarro espalhadas pelo quintal. a boca seca e o silêncio no andar de cima. até os matinhos insistentes que nasciam nas rachaduras do cimento, tudo com cara de morte.

outra vez na lona. esperei a contagem. eu estava nervoso. cansado. abatido. olhar desvairado. caindo de fraqueza. era a morte? sei lá. parecia.

mas resolvi ressuscitar alguma coisa por ali.

cuspi na cara da morte!

e cai dentro da noite, enquanto seguia os passos que todos desvelos de minha vida marcaram, ruminava suaves sinais sem rumo. e girava a noite velozmente sobre suas rodas invisíveis.

o vento soprou meu destino. um revertério no tempo e fui parar num botequim na Lapa dos anos
30.

sem estranhar mais nada, pedi um conhaque e uma cerveja ao garçon. ele trouxe. eu bebi. um homem debruçado no balcão cantarolava um samba antigo. intercalando a poesia boemia na batida da caixa de fósforo com uma tosse horrível de cachorro doente.

entre um verso e outro. tossia. e a intensidade da tosse era a mesma das palavras que saltavam de sua boca torta. o homem cuspia sangue e cantava os derradeiros versos dedicados a sua amada, a dama do cabaré.

sentei-me a seu lado e ofereci uma bebida. perguntei se precisava de ajuda. fiquei comovido com aquele pobre diabo. eu andava sentimental demais. as vezes me sentia um babaca por isso. em todo caso o homem recusou e agradeceu, me dizendo que aceitava a bebida, mas que não imaginava de que outra forma poderia ajudá-lo.

o homem bebeu rapidamente como se o mundo fosse acabar naquele instante. tossiu. tossiu . apertou-me uma das mãos e com a outra entregou-me um guardanapo dobrado.

saiu cambaleando, virou a esquina e sumiu.

eu acendi um cigarro e desdobrei o papel. era a letra de um samba. um samba triste. uma espécie de carta de despedida. expressando seu último desejo.

AOS AMIGOS DIGA QUE ME AMA. AOS QUE DETESTO DIGA QUE NÃO PRESTO.

foi assim que voltei a vida. tomando uma, às oito da manhã, num Bar da Lapa, em plena terça feira, pela primeira & última vez, com Noel.

meu coração voltou a bater.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

É COISA DO DIABO, PÓDI CRÊ

para ler ouvindo a canção Todo Amor de Carlos Cachaça


no começo tudo são flores. plantas carnívoras no pêlo de singelas margaridas que têm o perfume das rosas. nesse tempo, risinho sacana é bacana. urubu vira meu louro. menstruação, suco de uva. todos os pecados são perdoados os prejuízos esquecidos. os defeitos suprimidos. a cruel verdade da vida se enfeita de doces promessas e entregas pra um futuro eterno, que intimamente se espera que nunca chegue. tudo é pretexto pra gozo descomunal, até o bafinho matinal. no céu cinza de guarulhos um avião em pane vira estrela cadente. até apanhar da polícia passa a ser romantico. passa-se mesmo a admirar a lua como se ela não fosse apenas um monte de bosta cósmica no estúpido espaço sideral mais próximo.
a bebedeira fica simpática. a barba não espeta. a fumaça do cigarro tem odor de jasmim. três dias sem tomar banho e o caboclo fede gostoso. a dança boba da cabrocha se transforma na mais fina obra de arte. e a arte escorre pelo ladrão, como se qualquer peido nos braços dela fosse arte. crê-se mesmo no invísivel. desprezando a realidade que grita e fede nas ruas. ficamos íntimos da serpente. displiscentes, criamos a cobra em casa. um veneno tão doce e cheiroso que sentimos que vale a pena cultivá-lo sempre ao alcance.
esperando o bote certeiro da fera. alimentamos sem cuidado e com esmero esse bicho medonho. esse cão dos diabos, que os insensíveis chamam de amor. que os metafísicos denominam de essência e que no fundo no fundo não passa de um desarranjo intestinal causado pelos hormônios incumbidos de proliferar a espécie. ferramenta selecionada em nós pela natureza para que pudessemos estar aqui, agora. fudendo uns com os outros fudemos o mundo todo que fode com tudo mundo enquanto é fodido pelo o universo , que é a maior buceta que existe. é de se pensar no caso.

mas tem gente que acha pouco e quer um para gozar e o outro para sofrer.

amor, maldição dos diabos posta na encruzilhada. trabaio forte. tranca dura. amarração. é obra do coisa ruim nas mãos do pobre cambono, que faz a vontade do dono e leva a farofa adornada de pimenta e carne de bicho assada. um charutão pro santo negrão vaidoso montado no cavalo manso que morreu pensando que era bonito ser feio, gostando de fogo e cachaça, mulher bonita e desgraça que não é besta nem nada e anda por ai vagando atrás de alma atrasada.

quem é que pode com o amor?

juvelino achou que podia. saiu virado no cão. numa sexta feira treze. abraçando a dona do feitiço. e de quebra toda a roda da gira. cheio de bala na agulha e lero-lero a dar com pau. vestiu a fantasia de homem fatal e desempenhou sem pena seu papel de comigoninguempode, zombando da reza braba.
caiu lindo nos braços daquela loucura e achou foi pouco. não jogou nada pro santo. secou até a última gota da garrafa e pensou: o santo se quiser que compre.

sem pedir licença no terreiro armou seu circo itinerante e fez alvoroço com ar de quem não sairia dali tão cedo. e de fato superou o tempo estimado. sem arredar o pé, mostrava que não era qualquer macumbinha que iria estragar aquela foda amorosa. preto véio acostumado a espantar neguinho assustado na primeira, quando viu juvelino levando na raça só no sapatinho, ficou brabo e reclamou que a oferta foi pouca.

mandou trazer de longe, farinha importada da itália e carne de bufalo holandês. treinou os cambonos na pernada e pediu charuto cubano, uisqui escocês e cerveja alemã, que santo moderno é meio enjoado. gosta de coisa fina. se não o vudu num desenvolve direito. e a praga num pega de jeito. mandou armar a quizumba num lugar chique reservado pra abrigar a classe média decadente e os aspirantes a metidos a bestas. cheio de vela acesa pra manter o romantismo da siquizira iluminado, mas do jeito que a coisa anda pai véio ainda vai pedir refletor elétrico e raio lazer.

ai juvelino num deu conta. não vale mais a briga nem a paga. santo capitalista tá cheio de razão com deus e com o diabo. e ai ninguem pode.
juvelino revoltoso que sempre foi, meteu uma pedrada na prenda do santo vaidoso bebeu o drink do mandrião desencarnado e fumou o seu charuto, que ninguém é de ferro.
deu uma banana pro exú. e falou: se é só isso o que ocê qué pode levá. meus passarinho eu crio sorto. mais só não o faça sofrer mais do que merece. isso já é marvadeza demais.

cada um sofreu o tanto que podia, nem mais nem menos. o frio sempre é vendido no tamanho da coberta.

e o amor eterno durou dois contos de réis - suposto custo da desgracera toda. que no fim sempre quem paga é o povo!

saravá!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

As baratas

Baratas são artrópodes da classe dos insetos. Todavia, para os humanos, elas não tem nenhuma classe e são seres bem asquerosos. Qualquer um de nós é capaz de matar uma barata fácil, fácil. Muitos tem pena dos pássaros, alguns gostam das tartarugas, outros dos pandas, porém ninguém sente qualquer compaixão pelas pobres baratas, aliás todos sentem é nojo só de pensar nelas existindo por ai. Mas a despeito de todo empenho humano aplicado para exterminá-las, elas resistem e estão por toda parte, até mesmo nos lugares mais improváveis. Habitando os cantos mais inusitados, ocupando frestas inóspitas, enfeitando os lindos esgotos da vida ,vivendo dos nossos restos, enfim, foda-se.

As baratas estão mesmo fadadas a serem bichos escrotos. Para elas não há salvação. Nunca ninguém fundará a sociedade protetora das baratas, nem levará os filhos para visitá-las no jardim zoológico ou no circo. As baratas estão sozinhas nesse mundo cão.

Atento para o fato de que apesar das adversidades as baratas continuam firmes. Inventamos inseticidas cada vez mais potentes, venenos cada vez mais eficazes mas elas resistem e não dão nem sinal de que podem entrar em extinção algum dia. As baratas não estão nem ai. Não ligam pra nada mesmo . Não são de fazer cerimônia. Persuasivas, nunca são bem vindas , embora quase sempre compareçam. E sempre vistas com maus olhos.

As baratas não servem nem de cobaia porque não são de confiança. Ninguém coleciona baratas como fazem com as borboletas. E elas parecem não ser tão unidas quanto as formigas. Embora aparentemente sejam mais livres. Elas sobrevivem sem celular, não vão nunca a teatros e não navegam na Internet, ou seja, elas não tem o mínimo de sofisticação.

As baratas não lêem a bíblia. Elas mofam e ficam a espreita. Na calada da noite surgem timidamente e se instalam onde não foram chamadas. Acho que as baratas já sacaram que os humanos não vão com a sua cara. Elas são bem espertas. Parecem tolas mas não são não. Elas se acham espertas em seu mundinho de bosta e assim como nós vão sobrevivendo.

As baratas são meio chatas e possuem antenas além de patas articuláveis, ah! e também exoesqueleto. Baratas não tem sangue de barata. No lugar do sangue elas tem linfa – uma meleca branca que serve muito bem para elas viverem. Barata não tem medo de barata mas não se arrisca muito com outros bichos. Elas ficam na delas. As mais audaciosas saem voando para desespero das fêmeas da espécie humana que, quando estão naqueles dias, choram. Com as baratas não tem frescura, mesmo as baratas fêmeas são duronas e cospem em tudo. As moscas podem voar bem mais alto embora sobrevivam por apenas algumas horas. A vida de uma barata pode durar semanas para o desespero das pessoas. Como já foi dito as baratas não lêem a bíblia, mas nem por isso vão para o inferno, elas acreditam no seu deus baratão que vai salvá-las no final. Não sabem rezar mas mexem as antenas para manifestar seu apreço pelo inseto superior.

As baratas são alegres e calmas e às vezes agitadas e tristes. Às vezes elas se fingem de mortas ficando de barriga pra cima mas depois ressuscitam e dão no pé. As baratas comem de tudo menos barata, o que já demonstra um certo grau de civilização.

As baratas não dormem nunca, nem escrevem poemas. As baratas são simples, modestas e até simpáticas, quando estão mortas. As baratas não gritam nem se desesperam, pois não são de fazer alarde. Elas suportam.

As baratas velhas ensinam aos seus filhos baratinhas a temer os humanos e a mexer as antenas em louvor ao todo poderoso deus baratão, pobres baratinhas indefesas que são.

Cada transa de uma barata dura em média um segundo. De uma transa bem sucedida podem surgir mais de duzentas baratinhas de uma vez. Essa deve ser uma possível explicação para haver tanta barata assim no mundo. Dizem os cientistas , aqueles caras que estudam as baratas e tudo mais, que somente as baratas resistirão a um desastre nuclear. Como se pode notar as baratas são obstinadas e não são de morrer por qualquer bobagem. Elas não fundaram um sindicato para garantir os direitos da classe por que não leram Marx e portanto estão alienadas. As baratas se trabalhassem numa fábrica certamente seriam exploradas. Ainda bem que elas são autônomas.

As baratas não contam o tempo, elas apenas se entopem de porcarias e depois defecam. Ainda bem que as baratas não são do tamanho dos elefantes. Acho que as baratas não sabem de nada. Nem imaginam o que está por trás de tudo. As baratas são tão distraídas que nem sabem que existem. Elas apenas aparecem ali e ficam.

As baratas não sacam Nietzsche nem nada. Do contrário se tornariam super baratas e zombariam do deus baratão. Além do mais diriam que o deus baratão morreu e que foram as reles baratinhas que o mataram. Mas de fato isso não acontece.

Eu não seria capaz de comer barata nem mesmo por grana. Mas se estiver passando fome quem sabe? Não tenho menos nojo de barata do que de gente. Gente também é bem nojenta. Não gosto de barata mas se fosse um costume antigo ou uma nova moda tê-las por bicho de estimação talvez eu não pudesse resistir e teria uma. Seu nome seria Kafka.
Entretanto, como diz um velho ditado humano – Barata boa é barata morta!