quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Salada de Repolho


Rita, regateira, decidida, o tipo de mulher que é dona de sair do riscado. O que ela gostava mesmo era de levar na cara, tomar no rabo. Adorava um esculacho bem dado.
Teodoro, o bom moço. Olhos embriagados. Magro & amarelado, cabelo seboso, mas bom moço. Ele odiava salada de repolho. E nunca teve ânimo pra nada, muito menos cogitava de bater em mulher...
Teodoro na sala; entediado. Andava de um lado pro outro, com seu jeito todo torto. Esperando sabe-se lá o quê... Teodoro esqueceu - o que eu vim mesmo fazer aqui? – pensou.
Rita tomou banho e se penteou. Encheu o corpo de creme. Abriu a janela do quarto & ficou se olhando no espelho.
Teodoro era idealista. Nunca estava de acordo com nada. Não acreditava em porra nenhuma, mas costumava disfarçar contando piadas que ninguém entendia. E apenas com profundo pesar e resignação, deixava o tempo passar. Esperou...Teodoro não era de se apavorar, mas de vez em quando mordia os cotovelos e saia correndo como aquele maluco do filme que ensinou o Elvis a dançar.Teodoro enfiou a vida no cu. Leu uma porrada de livros mofados. Ouviu Velvet Undergound & ficou muito louco. Chapado como uma pedra. Se ocupando com as bobagens do seu mundinho pessoal. Aparou as unhas e se deitou no sofá. Depois coçou a cabeça & coçou o saco. Os programas da TV eram todos chatos demais - pensou... Nesse tempo fumou muitos cigarros...
Rita se armou de batom, vestiu seus penduricalhos e foi à guerra. Saiu toda-toda desfilando no calçadão o vestido novo. Vagabundo na rua pagava sapo. Salivava e engulia cuspe. A mina era boa de carcaça. Sabe aquelas que arrepiam o pêlo do malandro quando passam? Daquelas que sabem que são gostosas e se empinam? Então, a Rita era daquelas...
Teodoro esperava Rita. Rita estava meio assustada. Andava pensando na vida. Foi encontrar Teodoro, o moço esquisito, que outrora lhe arrancara o cabaço, com um aperto no peito, mas, talvez fosse prisão de ventre e menstruação atrasada ou então só o cansaço de mais um dia.
Teodoro, besta de tudo, escreveu poesias e comprou camisinhas.
Rita estava cansada e queria mesmo era ir ao pagode, desbaratinar, tomar uns birinaites e jogar conversa fora. Queria um homem que a pegasse de jeito. Não que não achasse Teodoro engraçadinho e bacana. Sentia por ele uma espécie de afeto... Um sentimento de – esse cara ai... Ele é tão esquisito, coitado. Teodoro pressentia que iria se fuder de novo, mas, investia na foda. Queria manter uma reputação que pensava ter. Ele vai dizer que a ama... Talvez por que fosse romântico, talvez porque fosse um canastrão que diz isso pra todas que dão mole. em verdade, Teodoro queria comer bem a desgraçada e dar o fora dali logo. Não era de andar a toa. Levava pinta de bom moço, apesar de ser viciado e não ter onde cair morto. Dava uma de que estava preocupado, mas levava tudo no bico. Costumava dar certo. Menos com a Rita. Com a Rita não tinha conversa. Era tudo simples. Sem filosofia. Na seca. Ou é sim ou é não. É óbvio que o que levava Teodoro a sempre fazer papel de bom moço é que ele tinha uma tremenda cara de otário. E vice e versa.
Rita era uma mulher a flor-da-pele. Queria se entregar inteira. Ela sentia isso. Mas não pra um cuzão feito Teodoro.
Teodoro era o típico vagabundo. Falava pra caralho sobre tudo, mas não esquentava mesmo era com porra nenhuma. Estava afim de impressionar a todos. Puxar a sardinha pra sua brasa, mas, no fundo no fundo era um boca de mingal que não ia dar em nada. Um bosta na vida. Depois de duas doses de conhaque isso ficava evidente.
Rita queria viajar pelo mundo, queria respirar outros ares... ser feliz pra caralho. Gozar a vida a fuder, que nem as moças da novela.
Teodoro sabia que ser feliz é saber se virar na tristeza.
Ele esperou... ela chegou - Não tem outro jeito, agora já foi, afinal fui eu quem chamou esse cara aqui. O que eu vou falar pra ele? Eu sinto algo por esse porra. Não quero magoá-lo. Mas não estou afim de dar hoje. O que é que eu posso fazer. Perdi o tesão... não sei... ficar com esse puto de novo deitado na minha cama. Cagando no meu banheiro. Sei lá...
Teodoro nem está tão animado, mas já que a situação chegara até ali. Como diz o outro: já que está, deixa ficar!
Tomaram muitas cervejas. Acenderam um cigarrinho de artista e pronto. Na mão do palhaço. Ferro na boneca!
Mas... Depois de uma noite emblemática de bebedeira... contando os corpos, mortos e feridos, só sobreviveram Rita e Teodoro pra contar a estória - realmente como se deu.
Todavia, como Rita era analfabeta, o resto do mundo vai ter que acreditar que Teodoro se deu bem...

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