quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

É COISA DO DIABO, PÓDI CRÊ

para ler ouvindo a canção Todo Amor de Carlos Cachaça


no começo tudo são flores. plantas carnívoras no pêlo de singelas margaridas que têm o perfume das rosas. nesse tempo, risinho sacana é bacana. urubu vira meu louro. menstruação, suco de uva. todos os pecados são perdoados os prejuízos esquecidos. os defeitos suprimidos. a cruel verdade da vida se enfeita de doces promessas e entregas pra um futuro eterno, que intimamente se espera que nunca chegue. tudo é pretexto pra gozo descomunal, até o bafinho matinal. no céu cinza de guarulhos um avião em pane vira estrela cadente. até apanhar da polícia passa a ser romantico. passa-se mesmo a admirar a lua como se ela não fosse apenas um monte de bosta cósmica no estúpido espaço sideral mais próximo.
a bebedeira fica simpática. a barba não espeta. a fumaça do cigarro tem odor de jasmim. três dias sem tomar banho e o caboclo fede gostoso. a dança boba da cabrocha se transforma na mais fina obra de arte. e a arte escorre pelo ladrão, como se qualquer peido nos braços dela fosse arte. crê-se mesmo no invísivel. desprezando a realidade que grita e fede nas ruas. ficamos íntimos da serpente. displiscentes, criamos a cobra em casa. um veneno tão doce e cheiroso que sentimos que vale a pena cultivá-lo sempre ao alcance.
esperando o bote certeiro da fera. alimentamos sem cuidado e com esmero esse bicho medonho. esse cão dos diabos, que os insensíveis chamam de amor. que os metafísicos denominam de essência e que no fundo no fundo não passa de um desarranjo intestinal causado pelos hormônios incumbidos de proliferar a espécie. ferramenta selecionada em nós pela natureza para que pudessemos estar aqui, agora. fudendo uns com os outros fudemos o mundo todo que fode com tudo mundo enquanto é fodido pelo o universo , que é a maior buceta que existe. é de se pensar no caso.

mas tem gente que acha pouco e quer um para gozar e o outro para sofrer.

amor, maldição dos diabos posta na encruzilhada. trabaio forte. tranca dura. amarração. é obra do coisa ruim nas mãos do pobre cambono, que faz a vontade do dono e leva a farofa adornada de pimenta e carne de bicho assada. um charutão pro santo negrão vaidoso montado no cavalo manso que morreu pensando que era bonito ser feio, gostando de fogo e cachaça, mulher bonita e desgraça que não é besta nem nada e anda por ai vagando atrás de alma atrasada.

quem é que pode com o amor?

juvelino achou que podia. saiu virado no cão. numa sexta feira treze. abraçando a dona do feitiço. e de quebra toda a roda da gira. cheio de bala na agulha e lero-lero a dar com pau. vestiu a fantasia de homem fatal e desempenhou sem pena seu papel de comigoninguempode, zombando da reza braba.
caiu lindo nos braços daquela loucura e achou foi pouco. não jogou nada pro santo. secou até a última gota da garrafa e pensou: o santo se quiser que compre.

sem pedir licença no terreiro armou seu circo itinerante e fez alvoroço com ar de quem não sairia dali tão cedo. e de fato superou o tempo estimado. sem arredar o pé, mostrava que não era qualquer macumbinha que iria estragar aquela foda amorosa. preto véio acostumado a espantar neguinho assustado na primeira, quando viu juvelino levando na raça só no sapatinho, ficou brabo e reclamou que a oferta foi pouca.

mandou trazer de longe, farinha importada da itália e carne de bufalo holandês. treinou os cambonos na pernada e pediu charuto cubano, uisqui escocês e cerveja alemã, que santo moderno é meio enjoado. gosta de coisa fina. se não o vudu num desenvolve direito. e a praga num pega de jeito. mandou armar a quizumba num lugar chique reservado pra abrigar a classe média decadente e os aspirantes a metidos a bestas. cheio de vela acesa pra manter o romantismo da siquizira iluminado, mas do jeito que a coisa anda pai véio ainda vai pedir refletor elétrico e raio lazer.

ai juvelino num deu conta. não vale mais a briga nem a paga. santo capitalista tá cheio de razão com deus e com o diabo. e ai ninguem pode.
juvelino revoltoso que sempre foi, meteu uma pedrada na prenda do santo vaidoso bebeu o drink do mandrião desencarnado e fumou o seu charuto, que ninguém é de ferro.
deu uma banana pro exú. e falou: se é só isso o que ocê qué pode levá. meus passarinho eu crio sorto. mais só não o faça sofrer mais do que merece. isso já é marvadeza demais.

cada um sofreu o tanto que podia, nem mais nem menos. o frio sempre é vendido no tamanho da coberta.

e o amor eterno durou dois contos de réis - suposto custo da desgracera toda. que no fim sempre quem paga é o povo!

saravá!

2 comentários:

  1. coitado do homem que cai no canto de ossanha, traidor! já disse o poetinha...

    muito bom!

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  2. INTOXICAÇÃO... HORMONIOS.

    Adorei te ler.
    BEIJOS
    Carol

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