quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Kafka, café, inseticida & outros bichos

Escreverei sobre as ratazanas passeando nas telhas de amianto. Sobre as trincas das paredes minando líquidos viciosos, que emboloram até os cantos da alma. Direi que um pouco de luz me invade pelas frestas da porta e que da janela com grades avisto um muro de blocos a dois palmos do meu nariz. Contarei como dezenas de baratas, que desisto de matar por um misto de preguiça e apatia, coabitam comigo contaminando meu ânimo, minha imaginação & os quatro cantos do casebre. Nomeio cada uma delas - me são íntimas. Se não as conheço minuciosamente pelo menos penso que estou numa viagem kafkiana, um pequeno delírio literário regado a café gelado & cigarro barato... mas de fato moro com baratas.
Cortaram a água. Acabou o gás. Dois meses de aluguel atrasado. Secada a última garrafa de cachaça. Vasculhamos as guimbas maiores no cinzeiro. Não temos fósforos, sequer temos vinte e cinco centavos. Dar descarga com a água da chuva que juntamos num balde & limpar o cú com jornal é de praxe. E de agora em diante todo o nosso empenho e esforço será dedicado para adquirir mais inseticida & mandar tudo isso logo para a casa do chapéu!

3 comentários:

  1. Quase fiquei com um misto de nojo e medo. Mas você nunca viu um escorpião e milhões de aranhas no teu chão enquanto seu cobertor não dá pra cobrir a cabeça e os pés.

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