Ainda hoje há pessoas que se trancafiam em seus apartamentos baratos e ficam ouvindo jazz, ridiculamente saudosistas do que nunca viveram e nem viverão. O mundo explode lá fora enquanto eles acendem seu baseado e preparam uma comida boa. Eles ficam olhando pela janela. Reclamando da vida. Reclamando da morte. Em verdade, assim clamam por alguma vida.
- O senhor acha que eu tenho alguma chance?
- Todos deveriam ter, mas no seu caso, rapaz...
- Eu sou um fracasso? Sr. Miller vamos, por favor, me diga logo. Estou ansioso, angustiado!
- Bem se vê o quanto está inseguro. Se você não se sente pronto é por que não está, ninguém está, aliás. Porém, é preciso que a coisa parta de você – porque diabos você pensa que precisa da minha aprovação?!
- Sei lá, o senhor é bem experiente no assunto...
- Bem, digamos que o fracasso não me subiu à cabeça. Mas também nunca estive pronto. Sempre estive sozinho com minhas verdades e mentiras. Só senti que poderia falar francamente sobre isso, para não ter que assassinar uma pessoa. Fora isso, tive lá meus momentos; algumas fodas amorosas e um pouco de diversão barata. Pode apostar que nunca broxei na bronha, disso posso me gabar. Do resto, só me esfolei por nada e nesse sentido não pude fazer muito mais que um iniciante...
Se for isso o que você quis dizer com “experiente no assunto” te digo: mergulhe fundo dentro da coisa e se foda bastante. Saiba que você está sozinho nessa, todos estamos. Lembre-se, quando estiver no fundo do poço, cave um pouco mais... se não pode amar, beba mais cerveja. E fique esperto, pois nenhum rabo no mundo vale mais que vinte mangos, isso em 1997.
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