sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A saga do menino bonzinho


(…) dessa vez, encontrou uma pequena garrafa(…) Presa ao gargalo, havia uma etiqueta de papel com as seguintes palavras: “BEBA-ME”, lindamente impressas em letras grandes.”
L.C.
Que sensação estranha!

O mundo estava uma merda. um gigantesco troço giratório boiando numa latrina sem fim… as pessoas e seus falatórios fodendo com os miolos. seu modo de vida cretino. sua aparência medonha. seu mau cheiro característico. toda a farsa que representam. a porra da sociedade. a merda viva do mundo. o perfeito reflexo da bosta que somos.
Quando tudo conspira contra é a hora...

não sou tão inocente a ponto de crer que alguém possa revolucionar o mundo só escrevendo. metendo o rabo em uma poltrona macia fazendo cara de xícara e ficar enfiando o dedo na máquina até imprimir ali naquele imenso vácuo, um código perfeito que decifre os mistérios da vida e sirva de manual de instruções para as próximas gerações concertarem a porra toda.
não, isso não. definitivamente.

porém não havia nada que soubesse fazer melhor que isso. e de fato não tinha ambições altruístas. na verdade, se pudesse foderia ainda mais. se tivesse culhão ia logo pras cabeças. sem piedade metia um cano na cara de quem inventou essa porra de capitalismo e de quem mais comprasse a bronca.

mas ali, estava eu, decadente, sem estilo. nem beber eu podia. com o rabo cheio de bactérias só comendo remédio até o cu fazer bico. se quisesse preservar pelo menos a integridade do meu pau. sim . para piorar tudo como se não bastasse. 28 dias sem beber e sem trepar. foi isso que disse aquele filho da puta. todo vestido de branco, com cara de golfinho, focinho entre os óculos, mais parecia um açougueiro. tinha um canudo na parede. atestado de pilantra. licença do SUS para matar. nunca confiei nessa raça. médicos. monstros, loucos. nunca confiei em ninguém.

ao menos essa miséria me proporcionou a oportunidade de me conhecer. de ficar sozinho.
- eu? oquê? quem? quando? murmuram entre si.

- um aglomerado de células orgânicas condicionadas para compor um organismo complexo demais para ser compreedindo por vossas cabecinhas de vento, muito prazer!

- o prazer é todo seu.

às picas tudo isso. porque haveria de existir um eu? oras, por que haveria eu de me importar com isso se eu realmente fosse eu.

- isso não faz nenhum sentido!

- e por que haveria de fazer? por que raios tudo pra vocês tem que fazer sentido. quem disse que é assim? querem legendas espalhadas por toda a parte. querem guardar a natureza em potes com nomes e cifras. pra quê? temos todo o direito de ser contraditórios. cobrar coerência de alguém é o mesmo que mastigar seus testículos ou então enfiar um galho de roseira no cú do sujeito. e não costuma ser elegante fazer isso. realmente não queremos isso pra nós. não seria nada cortez da nossa parte.
as relações humanas não passam de engodos psicológicos; delírios cotidianos sentimentaloides, ransosos, opacos. um quadro vivo de gestos falsos como o vinho que manchou a blusa alterando nitidamente o conjunto dos fatos.
é um tal de morde e depois assopra que dá nojo. tudo que herdamos dos nossos tataravós; o medo e as dúvidas. as mesmas paranóias. o jeito desajeitado de andar. a mesma voz irritante. e a mesmíssima cara de cú. isso de algum modo nos incomoda sem que tomemos consciência plena da coisa.
todavia ter consciência disso não reverte o quadro. é preciso se atualizar, se reinventar a cada instante – meter um novo personagem.
entretanto, expandir cada vez mais a consciência na tentativa frustrante de acompanhar esse processo mental-perceptivo é um exercício enfadonho que fode com o estômago, gerando náuseas terrivelmente suportáveis, a contragosto, beirando o absurdo.

se não se pode fazer o que se quer, não resta muito a fazer. a condição é: ou se faz as vontades e os caprichos dos outros, ou a de ninguém. tudo ou nada. nem pra deus nem pro diabo.

não que eu pensasse que beber e fuder fosse a chave dos portais do paraíso e que isso me faria feliz para sempre. não sou tão besta quanto pensam. sei que é tudo furada. um puta jogo sujo de dar nojo. vaidade de vaidade.

mas pelo menos isso não precisa fazer nenhum sentido. doses e doses cavalares de dompamina descendo pela goela acertando na veia. que te fazem viver dez anos a mil! e mesmo sem saber explicar ou teorizar, qualquer idiota percebe o calor da sensação e se seus reflexos estiverem atentos saberão distinguir um prazer que não tem preço.
mas tem. e é caro pra caralho. os olhos da cara. pela hora da morte! dariamos tudo o que temos para sentir isso intensamente, se não fossemos tão medrosos e mesquinhos. adestrados para ser feliz. desejar ser livre e sentir-se seguro. coisas que parecem incompatíveis, mas conciliáveis, ou vice e versa. não vem ao caso.

oras, quem quiser ser feliz que vá viver na disneilândia.!quem quiser segurança que compre um revolver !
a vida não é nem nunca vai ser melzinho na chupeta! não! a vida endoida. vira a gente do avesso.de cabeça pra baixo. pra abrir os olhos e pular da cama todo dia e representar a farsa é sempre um parto. um aborto mal feito. quem não se apruma, um dia não vai nem levantar e vai meter um balaço na cara antes de escovar os dentes.

mesmo contrariado engoli o remédio(sou tão desconfiado que achei melhor seguir a receita do pela saco0.

ainda não é hora. entramos no meio da vida. temos lenha pra queimar. resolvemos cravar os dentes na parte que nos cabe.
do que resta.
não queremos ser niguém. nenhum desses borra-botas que escrevem livros e ficam famosos. somos por excelência amadores.

agora. amantes incondicionais.

tocaremos fogo na casa para saberem, que se for preciso faremos morada na sarjeita, de camarote, do meio fio a banhar os pés sujos na enxurrada. sem ressentimentos, sem culpa,...

tudo um dia cai no mesmo no esquecimento.

perderei sim, ainda algum tempo, falando de mim. nada do que vocês já não saibam, mas teimam em esconder e relutam em aceitar.

perderei ainda algum tempo bebendo remédio. se possível adiarei para sempre o gran- finale.
perderei 28 dias e mais outros tantos que ainda virão. para um dia, quem sabe, viver um único instante que valha a pena chamar de vida.
por hoje e sempre!

TIN- TIN!

C.

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