quinta-feira, 22 de outubro de 2009

milho aos pombos

Uma pomba... Eu odeio pomba! Ela disse. Eu estava numa ressaca braba, sorri e continuei fumando sem saber o que dizer. Achei cômica a situação. O fato de haver gente e haver pombas e tudo mais. Pensei: que porra é essa?
Depois de alguns dias sem beber eu estava totalmente vazio. Sem imaginação. Acabrunhado. Cabreiro com a vida e com as pessoas. Na noite anterior, no beco das garrafas, torrei toda grana da passagem com bebida, mas acho que não queria mesmo ir a lugar nenhum. Contudo, precisava fazer aquele trabalho sujo para livrar o meu rabo por mais uma semana; naquele tempo eu vivia numa situação crítica, praticamente insustentável. Estava desempregado, vivendo de biscates, e as pessoas diziam que eu era um bêbado que não queria saber de nada. Talvez fosse isso mesmo, mas o fato é que filho da puta nenhum pagava nem o papel pra eu limpar a bunda. Quem esses tangas-frouxas pensam que são?! Será que eles se importam realmente com os outros? Será que eles pensam na merda de vida que levam?Acho que só diziam isso na ânsia de falar alguma coisa e não ter nada mais interessante que o valha para preencher as lacunas de sua própria insignificância. Isso era triste e confesso que era o que mais me incomodava.
Estava me alimentando mal e levando uma vida sem regras, deixando tudo pra depois, isto era fato. A não ser por estar terrivelmente apaixonado por Linda, que, fazia jus ao nome e pelo andar da carruagem, simpatizava com meu jeitão e odiava pombos, eu engolia a vida como um sapo. Algumas pessoas achavam que apesar de tudo eu era um cara de sorte. Outras achavam que eu deveria ser escritor. Eu realmente não fazia idéia do que essas pessoas pensavam, porém desconfiava que elas tivessem minhoca na cabeça. Não sei por que eu perco tempo com isso. Talvez eu deva mesmo ser escritor. Assim escreverei qualquer merda sobre as pessoas e suas vidinhas insignificantes. Contarei como elas se iludem e se frustram. Como são medíocres, mesquinhas e fúteis. Como enganam umas as outras e, sobretudo como negam a si mesmas e as possibilidades. Descreverei cada rosto estranho e suas expressões patéticas. Revelarei seus segredos mais sórdidos e seus medos mais absurdos. Falarei sobre suas atividades inúteis. Ou talvez escreva sobre a cópula dos elefantes, ou então sobre o ciclo menstrual das borboletas e assassine estes clichês apelativos e melodramáticos. Ou então, foda-se, não escreva sobre porra nenhuma e quem sabe arranje um emprego de merda numa repartição pública e venda meu rabo para o estado para morrer com o cú embolorado cheio de ferida de tanto ficar sentado numa cadeira desconfortável carimbando papéis sem ler.
Ela estava melancólica como quem tivesse perdido algo dentro do infinito de si mesmo e estivesse com preguiça de procurar. E eu me sentia cada vez mais besta. Incapaz de não sofrer por antecipação, despreparado para amar. Definitivamente apegado ao segmento de existência daquela mulher e sentia algo com o que não sabia lidar. Mas era eu quem gritava dentro de minhas veias. Um puta ego ferido. Mimado. Lesado por anos de embriaguês. Algo que eu chamava de eu.
Um escritor apaixonado só escreve merda e depois se arrepende. Mas ai já era. É o tipo de coisa que não vende. Ninguém quer se reconhecer nisso.
Ela simplesmente pagou minha passagem me deu um beijo na boca e saiu voando. Eu perdi o ônibus e fiquei sentado no chão da rodoviária escrevendo isso, de pau duro - pensando naquela pomba...

3 comentários:

  1. .

    Linda?
    Cada vez mais Buk em você hein!?
    Quanto às pombas, eu passo,é um fato que voem todas, de todas as naturezas referidas...

    ResponderExcluir
  2. Sera que linda era ou é importante?

    ResponderExcluir